quinta-feira, 25 de novembro de 2010

EM QUE DIA ME TORNEI INVISÍVEL?

O DIA EM QUE ME TORNEI INVISÍVEL

Não sei em que dia estamos. Nesta casa não há calendários e os fatos estão emaranhados em minha memória.
Lembro-me ainda daqueles calendários grandes, muito bonitos, grandes, ilustrados com belas paisagens, que colocávamos ao lado da cômoda ou da penteadeira... hoje, porém, quase não vemos mais isso.
Todas as coisas mais antigas estão desaparecendo e eu também fui-me apagando sem que ninguém se desse conta.
Primeiro, me mudaram de quarto, pois a família cresceu. Depois, me colocaram em um menor ainda, agora estou no quartinho dos fundos. Prometeram-me trocar o vidro quebrado da janela, mas já se esqueceram, e todas as noites entra por ali um ventinho gelado que aumenta as minhas dores por causa do reumatismo.
Há muito tempo eu tinha intenção de escrever, mas passava um bom tempo procurando um lápis e quando o encontrava, eu mesma me esquecia onde o havia colocado.
Com a minha idade, a gente perde as coisas facilmente. Sei que é uma doença, e sei também que as tenho, mas de vez em quando desaparecem.
Numa dessas tardes, me dei conta de que minha voz também estava sumindo. Quando tento conversar com meus filhos ou meus netos, eles não me respondem. E quando falam comigo, quase nem olham para mim, como se eu não estivesse ouvindo o que dizem.
Às vezes, entro na conversa pensando que o que vou dizer a eles não ocorreu com ninguém ainda e seria um bom conselho. Eles porém não me ouvem, não me olham, não me respondem.
Então, bastante triste, vou para o meu quarto sem mesmo acabar de tomar a minha xícara de chá. Faço isso para que vejam que fiquei irritada, que entendam que me ofenderam e venham me pedir perdão... Mas ninguém vem... Nem se lembram...
Outro dia, disse a ele que quando eu morrer, aí vão sentir falta. E meu neto perguntou: “E você está viva, vó?”
Todos acharam tanta graça que não paravam de rir.
Fiquei chorando por três dias em meu quarto, até que numa manhã entrou um dos meninos para tirar umas plantas que estavam velhas e nem sequer me deu bom-dia.
Foi aí que me convenci de que sou invisível. Fico parada no meio da sala para ver se ainda estou estorvando. Olham para mim, mas minha filha continua varrendo o chão sem nem mesmo tocar em mim. Os meninos correm à minha volta de um lado para outro sem tropeçar em mim.
Quando meu genro ficou doente, tive a oportunidade de lhe ser útil. Levei a ele uma xícara de chá que eu mesma preparei. Coloquei no criado e me sentei ao lado dele até que ele o tomasse. Estava vendo televisão e nem se deu conta da minha presença. O chá foi esfriando... e o meu coração também.
Numa sexta-feira, as crianças estavam alvoroçadas e me vieram dizer que no dia seguinte iríamos passear no campo. Fiquei muito contente pois fazia muito tempo que não saía de casa, e muito menos para um passeio no campo.
No Sábado, fui a primeira a me levantar. Queria fazer as coisas com calma. Os mais velhos demoram mais para fazer as coisas, assim, levantei mais cedo para não os atrasar.
Toda hora entravam e saíam de casa, correndo e colocando as malas e os brinquedos no carro. Eu já estava pronta e muito contente, então, fui à porta de entrada para os esperar.
Quando deram partida e o carro desapareceu no fim do caminho, entendi que eu não estava incluída. Talvez porque não cabia mais uma pessoa no carro ou porque andava devagar e isso impediria que corressem à vontade pelo bosque.
Senti meu coração pequenininho e o queixo tremia como quando a gente está com vontade de chorar.
Vivo com minha família e a cada dia que passo fico mais velha, e uma coisa curiosa, já não faço mais aniversário. Ninguém se lembra. Todos estão muito ocupados. Eu os entendo, eles é que fazem coisas importantes.
Riem, gritam, sonham, choram, se abraçam, se beijam. E eu não sei mais como são os beijos... Antes beijava os pequeninos. Era muito bom tê-los em meus braços, como se fossem meus. Sentia sua pele macia e sua respiração bem perto de mim. Era uma nova vida que me animava e começava a cantar canções de ninar que nem imaginava que me lembrava delas ainda.
Um dia, porém, minha neta, que acabava de ter seu bebê, disse que não era bom que pessoas idosas ficassem beijando crianças, por questão de saúde. Então não me aproximei mais, para que não imaginassem que poderia passar alguma coisa ao bebê, por alguma imprudência minha... Tenho medo de contagiá-los!
De qualquer maneira, os abençôo e perdôo, porque...
Que culpa têm eles de eu ter-me tornado invisível?
Autor Desconhecido
NINGUEM PASSA PELA VIDA SEM CONHECER UMA CRIANÇA OU UM IDOSO. QUEM JÁ FOI CRIANÇA LEMBRA QUANTAS VEZES TENTAVA FALAR NO MEIO DOS ADULTOS E NINGUEM PRESTAVA ATENÇÃO, TENTAVA DAR UMA OPINIÃO E MUITAS VEZES OS ADULTOS CHEGAVAM A RIR...
NINGUEM ESCAPARÁ DE SER IDOSO, TODOS NÓS UM DIA IREMOS ENVELHECER, MELHOR AINDA SE FOR COM CRISTO.
AME E RESPEITE A PESSOA IDOSA QUE ESTÁ AO SEU LADO, CUIDE, PROTEJA, AJUDE E DENUNCIE QUANDO PERCEBER QUE ALGUÉM ESTÁ MALTRATANDO UMA PESSOA MAIS VELHA.
ELES TEM DIREITO A VIDA, TEM DIREITO A FELICIDADE... TEM DIREITO DE SEREM AMADOS...AFINAL O QUE SOMOS E FAZEMOS HOJE IRÁ REFLETIR EM NOSSO FUTURO.

7 comentários:

  1. Essa doeu, minha vó tem 84 anos e realmente muitas vezes nós nem lembramos dela quando saímos para passear, vamos vigiar mais.

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  2. É triste ver como, mesmo que independente da idade, as vezes tratamos pessoas como invisíveis, e por outro lado, somos tratados pelas pessoas como invisíveis também. Como disse o irmão anônimo, é bom mesmo vigiar; e amar com o amor de Cristo, que enxergou todos os que hoje estão desaparecendo.

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  3. Quantas vezes nos sentimos despresados por tão pouco, o que dirá em nossa velhice?

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  4. Como é difícil ser percebido por alguem.

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  5. Se hoje que tenho 30 anos é dificil ser visível que dir´com mais de 60, por isso procuro tratar todos os velhinhos muito bem

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  6. O que precisa ser mudada é a mentalidade do brasileiro

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  7. Eu costumo dizer aos meus amigos e irmãos,que o dia em que meus pais partirem,chorarei de saudades;mas graças a Deus nunca de remorso.
    Plante hoje e colherás amanhã

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