COMO LIDAR COM A DECEPÇÃO QUE MUITAS VEZES
NOS PARALISA
A decepção faz parte da vida. Afirmo que é necessário
para o desenvolvimento humano. O desapontamento, na grande maioria das vezes é
um impulso para a ação, fornece-nos motivação para crescer e ir ao encontro dos
nossos objetivos.
A decepção pode considerar-se sempre que identificamos
um erro entre aquilo que desejamos alcançar ou que acontecesse e aquilo
que realmente alcançamos ou que aconteceu. Sempre que identificamos
esta discrepância, na grande maioria das vezes podemos ficar decepcionados,
com os outros ou conosco mesmo.
Mas é exatamente essa discrepância que nos permite
avançarmos, que nos permite questionarmo-nos, que nos permite olhar a realidade
de frente e progredirmos.
A decepção é uma forma de frustração, e aprender a
lidar com a frustração é uma habilidade necessária para conseguirmos lidar com
as nossas emoções de forma funcional.
A DECEPÇÃO COMO PROMOTORA DO
DESENVOLVIMENTO
Para promover o crescimento, a decepção precisa ser
experimentada, pelo menos num primeiro momento, em pequenas doses controláveis.
Aprender a gerir as decepções e frustrações na infância
ajuda-nos a desenvolver a capacidade de lidar com as decepções mais dolorosas
que encontramos ao longo de toda a vida.
Por outras palavras, experimentar decepções toleráveis quando somos jovens,
enquanto os nossos pais estão lá para nos ajudar a lidar com elas, ajuda-nos a
construir ”músculos” psicológicos, força emocional e
habilidades para lidar com esses sentimentos.
Não pretendo passar a mensagem que os pais devem
deliberadamente procurar formas de decepcionar os seus filhos. Nada disso.
No entanto, é importante no desenvolvimento das crianças que não aja uma super
proteção, devendo considerar-se normais pequenas frustrações e toleráveis
algumas insatisfações.
Este processo de viver as experiências menos boas sem
alarmismos, por exemplo, não ser capaz de encontrar um brinquedo favorito, não
ser satisfeito um pedido de doces no supermercado, ter que ficar com uma babá
por algumas horas, e até mesmo ter que dividir algo com um irmão, faz parte do
importante processo de construção de habilidades de enfrentamento.
Se você é pai, educador ou professor pense nisso por
breves momentos. Pense numa forma de desenvolver força emocional na sua criança
ou jovem. Por outro lado, se você já é adulto e sente que tem problemas em
lidar com a decepção, muito provavelmente não desenvolveu determinadas
habilidades chave quando era mais novo.
Por esse motivo não julgue que algo de errado está
acontecendo com você. O que necessita é entender os gatilhos que fazem disparar
a sua decepção e as crenças que as suportam.
Todos nós ao longo da nossa vida
vamos construindo um conjunto de conceitos e ideias que nos servem de
orientação e pela qual olhamos o mundo. Mas se essas crenças forem demasiado
rígidas, podem causar-lhe problemas encaminhando-o para uma frustração
recorrente, empurrando-o para uma decepção generalizada com a maioria da
pessoas e/ou da visão que possa ter acerca do mundo.
Na vida adulta, muitas são as vezes que as coisas não
acontecem de acordo com as nossas expectativas. Muitas são as vezes que as
pessoas não agem de acordo com aquilo que esperamos. Por vezes infligem-nos
sofrimento, falham conosco, são ingratas e injustas, levando-nos ao sentimento
de decepção. Para lidar com este sentimento de forma a não sairmos denegridos,
prejudicados e acima de tudo deprimidos, importa sermos flexíveis, importa
acionarmos a aceitação da realidade.
ACEITAR A REALIDADE
Uma das chaves para lidar com a decepção dos outros, é
perceber e tomar consciência que somos todos humanos, e os seres humanos são,
por definição, seres imperfeitos.
Todos nós, cada um de nós, decepciona alguém, em algum
momento ou outro.
Reconhecer este fato da experiência humana pode
ajudar-nos a lidar com a dor da desilusão, quando se trata de aprofundar a
nossa capacidade de amar e conectarmo-nos com a “imperfeição” dos outros.
Todos temos modelos pelos quais aprendemos a agir no
mundo. Essas pessoas transmitem-nos algumas linhas de orientação que nos servem
ao longo da vida.
São pessoas que admiramos, e que acima de tudo
respeitamos. No entanto, essas pessoas de referência também são humanas,
cometem erros, deslizes e por vezes injustiças, direta ou indiretamente,
acabando por decepcionar-nos.
No processo de enfrentar as frustrações (processo de
ruptura com o modelo), grandes e pequenas, quer em tenra idade quer na
idade adulta permite-nos colocar à prova as nossas habilidade de enfrentamento,
e com isso desenvolvermos a capacidade de nos ajustarmos à realidade das
situações.
Este processo pode ser complicado, mas
aplicando alguns passos você pode conseguir ultrapassar o sofrimento da sua
decepção:
- Fale sobre a sua decepção. Abordar o assunto pode parecer fazer piorar a dor no início. Mas, acredito que ao falar sobre os motivos e acontecimentos que o conduziram até à sua decepção pode ser promotor de esclarecimento e da procura de um atenuante. Conversando com amigos, parentes, ou um profissional pode ajudá-lo a processar os sentimentos e a restabelecer o equilíbrio emocional.
- Lembre-se que existem sempre várias versões para uma história. Tente obter mais informações antes de tomar qualquer ação ou tomar qualquer decisão sobre como responder a uma situação.
- Coloque-se no lugar da outra pessoa. Mesmo se você tenha uma opinião diferente, não diga, “Eu nunca faria isso.” Quem sabe, você até poderia fazer se estivesse na mesma posição.
- Seja gentil com você mesmo. A raiva, que pode ser o seu sentimento primário, muitas vezes é uma reação à dor. Tente reconhecer o quão você se sente magoado e tenta amenizar a sua dor com gentileza e bondade. Esforce-se por não ficar demasiado ressentido ou rancoroso.
- Converse com a pessoa que foi alvo da sua decepção, se for possível, pode ser útil, mas às vezes pode piorar as coisas. Então, seja claro sobre o que você pretende alcançar com essa possível conversa. Insultar ou atacar provavelmente não vai ajudar. Procure envolver-se numa discussão realista sobre o que a outra pessoa fez, e o quanto isso tem perturbado você, pode ser útil.
O QUE PODE ACONTECER AO LIDAR DE FORMA
DESTRUTIVA COM A DECEPÇÃO?
A decepção não é inerentemente algo mau. A decepção
comporta em si um lado duplamente positivo. Uma das razões é porque ela
representa a paixão a uma causa, a um valor ou a uma pessoa. A outra razão é
que ela impulsiona-nos à resolução e à combatividade perante a frustração
vivida.
Quanto maior a sua decepção, maior o significado da sua
paixão e consequentemente maior poderá ser o impulso para a solução. No
entanto, nem sempre assim é. Nem sempre a pessoa canaliza essa enorme energia
da melhor forma e na melhor direção.
Por exemplo, sempre que você tenta afogar a sua
desilusão, negar os seus objetivos e sonhos ou mesmo desistir deles, você está
realmente apenas rejeitando quem você é verdadeiramente.
Ao subjugar os seus desejos, as suas vontades, os seus
objetivos, os seus sonhos, as suas visões, o seu verdadeiro eu, você
anula-se.
Quando você tenta negar os seus desejos reais, você
está apenas consumindo-se.
Você pode tentar fingir que está tudo bem e continuar
normalmente na sua vida quotidiana, mas você não pode enganar o seu subconsciente.
Quando você se separa dos seus valores e daquilo que é
significativo para si, a vida começa a ser vivida de forma vazia.
Com o tempo, você corre o risco de ir-se afundado num
estado de decepção e insatisfação que pode conduzi-lo para um estado de apatia
geral. Você começa a viver todos os dias “sem vida”, sem paixão ou entusiasmo.
Você passa a sentir-se estéril e vazio. Com alguma naturalidade você pode cair em depressão.
A boa notícia é que lidar com a decepção não tem de ser
desta forma.
Você não está sozinho na sua desilusão.
Todos nós somos susceptíveis à decepção e certamente em
algum momento iremos ficar decepcionados. Seja com os amigos, familiares,
professores, gestores, colegas de trabalho, enfrentar a decepção é uma
realidade da vida. Não é um fenômeno exclusivamente seu. Ainda que na grande
maioria das vezes a decepção possa ser disparada por um gatilho do qual você
não tem plena consciência, você pode proativamente lidar com isso de uma
maneira consciente.
Desde que aprenda como lidar corretamente com as
suas decepções, você pode levar a vida de forma funcional, em alinhamento com
as suas paixões e desejos interiores.
LIDAR DE FORMA CONSTRUTIVA COM A
DECEPÇÃO
Coloque-se num estado mental mais claro sempre que você
experimentar a decepção.
Num estado de abatimento você é puxado para baixo, para
um estado inferior, onde os seus pensamentos são predominantemente enraizadas
no medo, tristeza, dor, ou até mesmo apatia. E, usualmente tudo este processo
ocorre de forma subconsciente.
Pode haver momentos em que o sentimento de decepção é
tão avassalador que parece o fim do mundo. A tristeza instala-se, com
isso você aciona uma ponte para o seu passado, relembrando-se de mais
acontecimentos de tristeza que comprovam a sua decepção. O ciclo de
negatividade cresce de forma automática, dado que a tristeza alimenta a
tristeza.
Os seus níveis de energia diminuem podendo levar à
resignação e à letargia.
Ficar preso num tal estado que o impede de pensar
logicamente e com clareza, é desvantajoso. Ao lidar com a decepção, o seu
primeiro foco deve ser tentar trazer a sua consciência para um nível mais
neutro ou positivo, tentando colocar-se num estado de maior capacidade para
reagir à sua situação.
Procure atividades positivas, onde possa melhorar a si
mesmo. Que atividades você mais gosta de fazer na sua vida? Identifique-as.
Pode-se escrever isso numa folha de papel, jogar, andar no parque, assistir a
um filme de comédia ou conversar com amigos divertidos.
Talvez todas estas recomendações possam parecer-lhe
banais, coisas normais, coisas que você até já sabe que são úteis.
No entanto digo-lhe que são muitos eficazes. Na grande
maioria das vezes as coisas mais simples são as que funcionam, mas são
igualmente aquelas às quais somos mais resistentes.
Isto acontece porque julgamos precisar de um “milagre”
para nos sentirmos melhor. E, também porque se você não sente vontade nenhuma
para fazer algumas das coisas sugeridas, porque razão se vai propor a isso?
Porque num estado de decepção, é benéfico que você seja proativo no
restabelecimento do seu humor e do seu equilíbrio emocional.
LIGUE-SE AO SEUS VALORES, DESEJOS,
INTERESSES E NÃO AOS RESULTADOS
Quando você está desapontado, a sua fonte de decepção
pode estar enraizada no seu apego excessivo a um determinado resultado. Quando
um resultado não se manifesta do jeito que você imaginou, você fica decepcionado.
Esta é uma resposta perfeitamente natural.
No entanto, entenda que as suas expectativas no
resultado, ou objetivos, são um reflexo ou projeção externa de um desejo
subjacente que você tem.
As expectativas podem ou não ser projeções precisas, porque
são interpretações meramente subjetivas do que você pensa que é necessário para
viver de acordo com o seu desejo subjacente.
Por exemplo, digamos que você foi a uma entrevista na
empresa “A”. A Empresa “A” oferece um pacote de benefícios grande, você já
ouviu elogios sobre o local. Você pretende fazer uma carreira na empresa “A”.
No entanto, você é preterido por outro candidato a quem consideraram como tendo
um melhor perfil para o cargo. A empresa passa a ter uma política de
apenas aceitar um candidato uma vez a cada dois anos. Não há nenhuma maneira de
você tentar de novo nos próximos dois anos. O que você deve fazer a partir
daqui?
O segundo passo para lidar com a decepção exige que
você olhe para os seus desejos e objetivos e não propriamente para o seu
resultado obtido.
Comece por reconhecer que um emprego na empresa “A” é
apenas uma projeção dos seus desejos internos.
O seu desejo interior pode ser o de obter uma carreira
desafiante e ter um emprego num ambiente de trabalho dinâmico.
Se tentou e não conseguiu um bom resultado, há muitas
maneiras para alcançar o seu desejo, como trabalhar na Empresa G, Empresa X, ou
mesmo a criação do seu próprio negócio. Trabalhar na empresa “A” era apenas uma
das muitas maneiras de você poder conseguir isso.
Neste exemplo, era importante não personalizar a
decepção. Ou seja, era importante não ficar decepcionado consigo mesmo, nem
atribuir descrédito às suas capacidades ou habilidades.
Nestas situações, tal como referido anteriormente é
importante encarar a realidade dos fatos, e não entrar num ciclo de
negatividade.
É importante perceber a razão do abatimento e da
frustração, mas depois, com clareza tentar perceber que na base da desilusão
está algo bom: os seus desejos. E esses desejos podem continuar a
alimentar as suas ações no sentido de chegar onde pretende.
A decepção só é prejudicial quando você a usa para o
travar, para o imobilizar na sua frustração e impedir que continue em frente.
LIBERTE-SE DA SUA ILUSÃO MENTAL
É importante trabalhar a sua capacidade de adaptação às
circunstâncias da vida e à mudança, desenvolvendo a sua flexibilidade de
pensamento.
Muitas pessoas permanecem num estado desapontado porque
ficam enraizadas nas suas expectativas acerca de como a realidade deve ser.
Se você está decepcionado com alguma coisa, muito
provavelmente pode estar a alimentar certas percepções sobre como as coisas
deveriam ser.
Estas percepções não são a realidade, elas são
invenções criadas por si na sua mente, não propriamente falsas, mas elaboradas
nas suas crenças e formas de olhar o mundo. Nem verdadeiras, nem falsas. Mas se
estão contribuindo para a sua decepção, merecem ser revistas, merecem
outro olhar.
Estas ilusões mentais são desencorajadoras porque o
mantêm preso num estado negativo. Algumas dessas ilusões são alimentadas por distorções do pensamento,
impedindo-o de progredir na direção para onde você pretende ir.
Lidar de forma assertiva com o desapontamento requer
que você fique ciente das suas ilusões mentais.
ENTENDA QUE OS RESULTADOS INDESEJADOS PODEM
NÃO SER RETROCESSOS
Muitas pessoas decepcionam-se com algumas situações ou
resultados, porque veem isso como uma derrota ou um fracasso comparativamente
ao que querem atingir. Sentem-se como se tivessem dado um passo para trás
relativamente às suas expectativas.
Por exemplo, digamos que você investiu muito do seu
tempo na preparação para os exames. Você tinha a crença de que essas ações,
juntamente com o que você sabia (a sua realidade), resultaria num resultado
positivo.
No entanto, em vez de atingir esse resultado, você
ficou aquém das suas expectativas.
Provavelmente perante uma situação como a descrita
anteriormente você ficaria desapontado, essa experiência é realmente
exemplificativa que existia um equívoco no seu pensamento.
A apreciação inicial levou-o a concluir que o que fez e
sabia era suficiente para alcançar o resultado pretendido, que na verdade não
foi. Em vez disso, você pode precisar aumentar os seus recursos ou mudar a sua
abordagem para alcançar os resultados desejados.
A sua decepção tem realmente como finalidade
ajudá-lo a mover-se em direção aos seus objetivos, e não conduzi-lo para longe
como se pensava inicialmente.
Neste exemplo, e sendo abordado de forma construtiva,
iria servir para a obtenção de novas lições, seja sobre si mesmo, a situação ou
mesmo do mundo.
Você ganhou alguma coisa que ninguém mais poderia
fornecer-lhe.
Como pode um resultado negativo ser um
revés se lhe deu algo novo para aprender?
Você chega a um novo nível de consciência e crescimento
que nunca teve antes. A decepção promoveu-lhe novos entendimentos e formas mais
funcionais para obter o que desejava
AVANCE: FOQUE-SE EM FAZER O MELHOR QUE
PUDER
Lidar com a decepção não é definitivamente uma tarefa
fácil, mas se você trabalhar focado nas etapas mencionadas acima, acabará por
ajudar a retirá-lo do estado vazio e confuso que provavelmente se encontra.
Ainda que alguns dos seus objetivos do passado possam
ter culminado em decepção, isso pertence ao passado.
Você agora tem a possibilidade de lidar com as
frustrações de uma forma mais funcional e vantajosa para si. Mantenha-se focado
nos seus desejos e nos seus sonhos de vida.
Não olhe os resultados como fracassos usando a decepção
como uma paralisia da ação. Com os seus desejos em mente, continue em
frente.
“A
vida não é apenas sobre como alcançar as metas, é sobre vivê-las ao máximo.” (Miguel
Lucas)
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